segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A dois


Tem música, gente, bebida, olhares, galanteios e saias coloridas balançando na brincadeira de tocar de leve as pele sensível das mulheres. Tem eu, no salto, no perfume, no desejo e no coração brincando de São Silvestre. E nem balancei minha saia ainda. E nem vi seu sorriso de canto, escondido de mim e do mundo. Nem vi onde meu ar foi parar quando entrei. Vi a pista, vi os músicos e vi a mim vagando pelo espaço meio cheio, meio vazio, meio meio. Alguém me tocou o ombro e pediu “vamos abrir os trabalhos?”. E, ao ver aquele par de olhos âmbar, abri trabalhos, sorrisos, abraços e pernas para encaixar seu par de pernas, braços, olhos e intenções.
Carregá-la pelo salão é a coisa mais fácil do mundo.  Ela é entregue, confiante. Tão confiante que eu me pergunto se me deixaria levá-la pra longe dali, para uma dança nova, com tecido quase acrobático. Mantenho-me firme para que nada mais abaixo resolva ficar firme também. Quando ela dança, ela não conversa muito, às vezes solta uma risada quando erra o passo, mas já gruda no meu peito outra vez e sai balançando o vestido por aí. Ela me dá calor. Pelo ambiente, pela dança, pelo corpo que ela cola no meu, pelas coxas que abraçam a minha perna e por esse tesão do caralho que ela me dá.
Sempre acho que depois de dançar com ele saio de rímel borrado e cabelo em pé. Porque apoio meu rosto no peito tentando me acalmar e tentando arrumar um só eixo pros giros, e ele encosta o rosto no topo da minha cabeça. Aposto que fecha os olhos, já o vi dançando assim. Aliás, nem olho muito, porque quando o vejo dançar perco o passo. Perco o ar e perco os sentidos querendo ser eu a me emaranhar por aquele abraço gigante. Dançando com ele eu relaxo as mãos e o seguro pelo pescoço. Sinto uma corrente fina pela palma da mão. Curioso como os homens que mais me provocaram suspiros e disritmias usavam uma corrente no pescoço. Geralmente escapulário. Geralmente presente da mãe. E, essas correntes, ficavam mais encantadoras ainda quando deitados e sobre mim, a corrente me roçava os lábios e se balançava pra frente e pra trás.
Na salsa, ela mexe os quadris como se não tivesse ossos, não tivesse vergonhas, não tivesse ninguém. Mas sempre achei que mesmo que ela estivesse dançando aqueles ballet com saia cor de rosa e coque no cabelo, os olhos ainda teriam aquele tom profundo capaz de engolir inteiro, como se você estivesse nu e sozinho e ela, tirana maldita, ri da sua vergonha enquanto os olhos secam cada pedaço de pele exposta. Ela dança sempre de olhos fechados e, quando a música a agrada, sorri. Mas não encosta no pescoço. Isso ela só faz quando se prepara para o bote. O meu, ela já brincou de deslizar a mão diversas vezes. Uma, duas, direita, esquerda. É tanta pele na pele que se fizer exame DNA dá confusão. Tem eu e tem ela ali no meio. Tem tanta coisa que o bioquímico vai pedir demissão. Vai achar que é criação nova e vai fazer o sinal da cruz. E não tem nada de novo. Tem só gente querendo se fundir numa coisa só.

A música diminui de ritmo e deixo as duas mãos no pescoço dele. Meus pés mal saem do chão e os quadris ele guia no balançar das pernas grossas. A coxa entre minhas pernas me roça a pele devagar, e o tecido leve do vestido ameaça me descobrir e diminuir os entraves entre o corpo dele e o meu.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mercadoria

São 00h23 e o estacionamento do teatro já está vazio. Por perto, alguns homens cheirando a botequim barato e mulheres buscando renda. Saia curta, botas de cano longo, batom vermelho nos lábios, esmalte descascando e uma pequena bolsa. Com olhar de malícia, ela observava os carros passando. “Gostosa”. “Se te pego, te rasgo inteira, delícia”. Ela sorri e espera pacientemente. Outras donzelas de calçada entram em carros de todo tipo e somem na noite florianopolitana.  Alguns carros param, perguntam o valor do programa e ela rejeita. Ainda não é hora. Não esses homens. Não pra ela.
Um peugeot 308 dobra a esquina lentamente e ela sorri. Lá dentro está o parceiro de diversas aventuras sexuais. Exploraram juntos praias, motéis, barracas, piscinas e elevadores. Quando ela fez a proposta de ser puta por uma noite, ele encheu os lábios com um beijo forte e disse ‘pago qualquer valor pra te ver rebolando’. O carro para e baixa o vidro do motorista. “E aí, quanto?”. “O completo é 200”. “E quem garante que essa boca é gostosa?”. Ela sorri, inclina-se para dentro do carro, abre o zíper e o chupa ali mesmo, sem esperar que ele responda ou reaja. Ainda escuta um ‘vagabunda’ soprado diante da surpresa. “Entra”. “Tem que pagar agora”. “Entra, porra”. Ela passa pela frente do carro, arrastando a mão pelo capô, e mergulha no banco do carona. Ele enfia quatro notas de cinquenta no decote e sai noite adentro.
Antes que ele pudesse contornar a centenária figueira da praça XV, ela se inclina e começa a chupá-lo devagar. Ela sabe que precisa ir com calma enquanto ele estiver dirigindo, principalmente porque, para incorporar a personagem, ele dispensou o uso dos óculos.
Diferente das chupadas das transas casuais, dessa vez ele não acaricia os cabelos. Enfia a mão pela minúscula saia. A calcinha já esta completamente molhada e ele a empurra para o lado sem demora. Encosta um dedo no clitóris e começa a estimulá-la de volta. Ela geme e chupa aquele pau delicioso com mais vontade.
Ele, sem avisar, resolve passar por um drive thru. Quer que todos vejam a submissão daquela mulher, como a fome invadia os olhos e o calor dentro do carro não deixava dúvidas da programação noturna. Ela se recompõe e, enquanto o atendente anota o pedido, retoca o batom. Pegam a comida e partem para o motel.
Quando ele estaciona, ela pede para recuar o banco e senta no colo dele. “Eu disse que era completo. Começamos no carro”. Tira a camisa dele e faz uma trilha de beijos molhados pelo pescoço, ombro e peito. Ele se reconforta entre os seios e aperta a fina cintura com vontade. Ela já estava tão molhada e ele tão duro que foi fácil cavalgar naquele pau dentro do carro. Os vidros embaçavam e o carro se movia no ritmo que ela ditava. Por ora, ela era dominante.
Dentro do quarto, ele a joga na cama sem cerimônia. Apesar de ali não ser exatamente a sua parceira, aprendeu que aquela mulher é dura na queda. Pode bater, jogar de um lado para o outro que ela não quebra. Ao contrário, ri e pede por mais. Ela o puxa para a cama pelo cós da calça pendendo frouxa no quadril dele. Prende a mão dela acima da cabeça com as próprias mãos e sai beijando aquele corpo que ele já tinha decorado há meses. Ela gemia feito uma louca e debatia as pernas de tesão. Ele morde a barriga e distribui beijos pela coxa e virilha. Arranca botas, saia e calcinha em poucos segundos. Com os pés, ela empurra a calça e a cueca para longe. Senta-se de frente pra ele e deixa que ele dê o ritmo da segunda foda da noite. Ele agarra os cabelos e beija o pescoço com força. “Vagabunda, piranha, cachorra, puta. Minha puta, eu paguei, é minha entendeu?”. Em resposta ela só gemia.
Em seguida vem o primeiro, segundo e terceiro orgasmo dela. O corpo entrava em estado de êxtase e ela tremia, gritava, quase chorava agarrada aos braços dele. Ele metia forte porque sabia que ela não tinha forças para continuar, mas o mataria se ele parasse. E aí veio mais um orgasmo, fazendo-a desabar para o lado e murmurar um ‘puta que pariu’ com o rosto enfiado no colchão. Ele a puxa para o quadril, segura pela cintura e a fode de quatro: a posição favorita dele e que ela, submissa, executa com louvor. Rebola e pede por mais. ‘Fode tudo, rasga que é tudo teu’.
Aquela mulher já o faria suar em pleno Ártico. Dentro daquele quarto, ela era oásis. Ele podia – e fez – tudo que tinha vontade. Deleitou-se com os sabores da moça, soube aproveita-la ao máximo e, quando ela estava perto de desabar, ele segurou o rosto dela com firmeza e disse “agora eu quero esse cu, e eu vou gozar nele”. Encaixou-se perfeitamente atrás dela e sussurrava ao pé do ouvido obscenidades que faziam ela mexer o quadril cada vez mais forte. Uma mão ele estimulava aquela buceta que ainda latejava, enquanto a outra mantinha o corpo dela bem próximo. Ele geme, grave e contido, e aí ela sabe que ele vai gozar. Empurra o quadril com mais força e diz “solta essa voz, gostoso. Quero te ouvir”. Ele deixa o gozo e o gemido virem a tona, que provocam outro orgasmo nela, dessa vez muito mais forte que os outros. Uma mistura de prazer, dor e uma sensação que aquilo tudo não cabe dentro dela. Faz todo sentido o nome ‘petit mort’ dado pelos franceses.
Ainda ficam alguns segundos parados, deitados banhados em suor, saliva e gozos. Ela tem a mão entrelaçada na dele e ele esconde o rosto pelos cabelos castanhos. É o único momento em que as personagens puta e garanhão se desfazem e a cumplicidade escapa pela brecha aberta pelo cansaço.

Ele a deixou em casa perto do amanhecer. Despediram-se com um beijo breve e um tapa na bunda. Quando ela chegou no apartamento e desabou na cama, o celular tocou. Na tela, uma mensagem dele que dizia: “adorei nossa aventura. vc é a puta mais deliciosa que já comi, mas acho q o dinheiro q te dei devias nos pagar um sushi. Te encontro daqui algumas horas no café. GOS-TO-SA!


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Vem cá, quero te contar uma história

Revisão do carro, pagar contas, resolver problemas, passar na farmácia... A maldita semana mal começou e eu já estou cheio de problemas. Merda. E você parece que adivinha e vem, assim meio menina, meio protetora, querendo saber se tá tudo ok comigo. Merda de novo. Faz tanto tempo que a gente não conversa. Faz mais tempo ainda desde a última vez que ouvi você gemer. Se eu fechar os olhos não sei ver aquela cena linda, mas lembro que foi foda.
Eu contei, assim por cima, como anda a minha vida e o jeito tranquilo em que você dizia coisas pra me ajudar me fez pensar o motivo que ficamos tanto tempo sem conversar. Ah, a merda da minha rotina e seu chá de sumiço. Perguntou se eu queria um café, pra jogar um tempo fora e sair desses compromissos que me envelhecem uns dez anos. Tempo? Eu não tenho tempo pra jogar fora, mas preciso tanto sair dos rotineiros! E nossa conversa é sempre agradável, estamos no mesmo espaço uma vez por semana, por que não? 
"Ok, a gente se vê as oito então?"

Meu café já estava quase na metade quando você chegou. Curioso, atrasos não combinam muito com o seu perfil. Entrou andando tão depressa que a saia voava e por um segundo toda a sala ficou mais leve. Abriu um sorriso daqueles que esquentam por dentro. Eu sorri e ajeitei a coluna pra sentar ereto, meio pavão tentando impressionar, mesmo não sendo esse meu objetivo. Eu só quero uma conversa boa e alguém que saiba falar mais do que sobre o último lançamento da Apple. 
Pegou um capuccino no balcão, sentou e soltou um sopro bem longo, como se estivesse segurando a respiração a exatos 17 segundos. Não levantei pra dar um beijo no rosto, não tocamos as mãos, o oposto do que se espera de duas pessoas que não se veem a, uns sete meses? Em outros casos eu acharia meio ano um tempo ridiculamente curto, mas você conseguiu me convencer que "na velocidade que o mundo anda hoje - e na rapidez que, particularmente, gira minha vida - em um mês é possível acontecer muitas coisas, e com chances de serem extraordinárias". Pergunto-me, até hoje, se teria como eu discordar desse argumento tão passional e eufórico da vida autodestrutiva que boa parte das pessoas leva hoje. Se as pessoas soubesses todos os dragões que você mata todos os dias, amariam mais ainda esse seu jeito cor de rosa de olhar as coisas.

Você saiu contando dos novos projetos que começou desde a última vez que nos encontramos face a face. Falava com os olhos saltando entre milhares de pontos, fazendo com que eu imaginasse a cena que você me descrevia com tanto entusiasmo. Gesticulava com essas mãos delgadas que parecem não ter osso algum, de tanto que se movimentam. Como é engraçado ver essa euforia toda enquanto eu ainda estou muito puto pelos problemas com o banco ontem.
 'A gente é tão diferente, né?'. 'Mas os nossos olhos tem o mesmo tom, esse castanho meio amêndoa e âmbar, que esporadicamente brinca de se fazer quase verde'. Era o que você diria se pudesse ouvir meus pensamentos. É assim, eu falo do concreto e você vem com poesia, com essa mania de tentar descrever sentimentos e sensações com situações. 'Nomear essas coisas que a gente sente é difícil e me dá nó. Além de ficar limitando', bem pensamento de quem escreve e tem esse olhar rosa pro mundo. Sua maluca.

Um ridículo segundo de não vigília e sem querer eu vislumbrei seu peito subindo e descendo no meio desse discurso eloquente. Eu sei o tamanho exato que esse sutiã esconde, pra mim não adianta essa pequena armadura... Merda! Porra, onde foi no meio da conversa que surgiu qualquer palavra que evocasse uma provocação? Ninguém falou nada do tipo 'excitante', 'cama', 'calor', 'orgasmo', ou qualquer palavra de bosta do nosso dicionário que pudesse me fazer pensar no seu corpo nu e quente. Não era essa a proposta. Mas que droga!

Você faz uma pausa pra tomar um gole de café. De repente dá um pulo de susto. Queimou os lábios. Morde o lábio superior devagar e me olha com os olhos brilhando de quase lágrimas. Eu estou de boca meio aberta, reflexo do susto que tomei. E aí teus olhos mudam, o brilho é outro... Eu já vi esse brilho antes, mas onde e quando? Esses segundos de olhos nos olhos, esse seu olhar, quando eu vi isso? Maldita! É seu olho de fome! Feito um estopim de bomba eu vi tudo e entendi tudo. Li sua mente maquiavélica e sedutora. Como consegue? Você quer! E quer tanto.Como não pude perceber que você exalava essa vontade e essa dominação de mulher alfa? Culpa dessa cortina de cílios que me confunde.

A partir dali a conversa foi entrecortada, estranha, sem nexo. Eu já estava inquieto e louco pra colocar as mãos na sua cintura fina e fazer você ficar presa ao meu quadril. Não sei onde enfiar as minhas mãos, a não ser no meio do seu cabelo ou segurando suas coxas firmes.
"Preciso ir embora"
"Eu acompanho até em casa. Já é meio tarde né?"
"É..."




Fui embora. De novo. Desculpa amor, não sei ficar.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

sábado, 3 de agosto de 2013

(Des)rotina

Onde está o leite?
...
Ah, na geladeira
(abro o microondas)

Essa, meu bem, sou eu fora do ar depois do nosso encontro. Procurando leite no microondas e colocando café em um pires. Tudo do avesso e a cabeça em outro lugar. Longe, bem longe depois de todas as sensações que eu passei sob teus carinhos na paz do apartamento vazio. Paz essa que só existia do lado de fora, porque do lado de dentro eu era puro caos.
Nossa busca por saciedade mexeu com as estruturas do prédio – e com as minhas também. O prédio pode até ir abaixo com a pressão e a velocidade dos nossos quadris, mas eu, ah, eu só vou acima, infinitamente. Tão infinitamente que morro por segundos infinitos. Le petit mort. Fecho os olhos com força e todo o meu corpo treme em cima do teu. Meu grito ainda atravessa as paredes e incomoda a vizinha pouco amada. Teu corpo suporta a força e a urgência do meu, urgentemente desabando prazerosamente. Pouco a pouco meu coração bate de novo e eu recomeço o ato automático de respirar.
Abro os olhos devagar, ainda entorpecida pelas sensações que teu corpo me causa de dentro pra fora. Encontro tua boca esperando pra me cobrir de beijos com teus olhos risonhos. Ainda preciso-te, devagar e urgentemente, como diz a música. Ainda de perna bamba e mole, vou beijando teu peito, mordiscando tua barriga e sorrindo, já sabes que eu preciso te engolir e te esquentar, da maneira mais doce e branda. Não tenho nem coragem de dizer que é uma recompensa, seria imensa mentira. É prazeroso demais pra mim para ter audácia de dizer que é só teu presente.
De boca gelada propositalmente, vou beijando perto do teu delicioso amigo. Ele me espera, eu sei. Mas eu também fui torturada pela tua lentidão proposital em me preencher, aguente firme. Beijo-te bem na ponta, com um toque de língua. É pouco pra mim, quero inteiro, aquecido. Engulo por completo, fazendo uma leve pressão com a língua dentro da boca. Teu gosto de suor e gozo é absolutamente perfeito - meu sabor favorito! E numa dança arrítmica de lábios, língua, mãos e saliva, vou te acariciando, presenteando e me presenteando com as tuas sensações, teu gosto, teus olhos risonhos, até que eu tenha de novo teu gosto pela boca e teu calor escorrendo pelo rosto. Sujar-se nunca foi tão prazeroso como é ao teu lado.
Ainda temos tanto por fazer e tão pouco tempo nos resta. Preciso de pausa, porém curta. Meu quase desespero incontrolado de provocações e prazeres não pode ficar muito longe dos teus desejos tão correspondentes aos meus. E poderia?


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

4:13am

“preciso não dormir até se consumar o tempo da gente”
Não dormi. Não dormi bem antes de te ver chegar e muito menos depois da tua partida. Morfeu me abandonou e mandou a euforia no lugar. E dessa brincadeira toda, como convencer os olhos a ficarem fechados se a serenidade me abandonou? Procura, procura por aí que ela deve ter ficado no teu bolso – ou talvez na tua boca. Quem sabe estivesse pelas roupas no chão e eu varri sem querer pro lado de fora de casa.
Agora, depois que os lençóis já estão frios e meus pés voltam à temperatura glacial que são sem teu calor, eu me viro e remexo nessa cama tão pequena que sem outro corpo parece uma king size. Ainda sinto o arrepio da barba e minha boca se abre esperando teu corpo agora ausente. Fecho os olhos tentando estender o prazer que a tua língua ágil me deu por todas essas horas e quase sinto a tua invasão lenta e torturante. BOOM! Estou pronta pra mais horas de provocações, jogos de sedução e risadas inesperadas.
Meu lençol traz o sinal que eu já estou sozinha e o cansaço do corpo me lembra que já é tarde, mas, se tivesse teu olhar de fome, teu desejo de corpo aqui e agora, estaria pronta a correr uma maratona, saltar, dar acrobacias e cavalgar por muito tempo.


Quem sabe a ausência te deixe corroído de vontades e meu gosto apareça na tua boca e queiras aparecer por aqui, só pra gente conversar. Prometo, é só conversa e nada mais.


sábado, 27 de julho de 2013

Mess

Pode ser que eu queira tudo bem separado. Arroz em um canto, feijão no outro lado do prato.

Mas pode ser também que eu queira a confusão. Da tua boca com a minha, das nossas pernas, do meu gosto e do teu.
Sabe, é que eu acho que essa mistura da tua roupa com a minha pelo chão, da tua saliva na minha pele, traz uma certeza de que as coisas funcionam no meu santuário - que eu quis que fosse teu lugar sagrado também.
Quando as coisas se fundem desse jeito, os prazeres se misturam também. E daí sai uma sinfonia de sons, gemidos, gritos e pedidos, os meus seguidos dos teus e às vezes nós dois juntos. Porque teus sons são meu combustível, tua carne é minha também. E é nela que eu coloco a pressão que eu preciso, que a gente precisa pra levar essa valsa na horizontal adiante, até o fim e começo de nós dois.
O enlace das nossas pernas e vozes são a miscigenação de poesia e do instinto bruto e puro. Através dos nossos olhos fechados, vemos o tempo acelerando e parando pra que a gente possa buscar o ar que essa brincadeira sugou dos nossos pulmões.
A tua pele na minha tem a mesma temperatura, e ainda sim queima. Queima de desejo ardente e de urgência, queima-me só com os olhos, teus olhos de fome. E gasta, gasta-me os lábios. Gasta as vontades e as fantasias pra que juntos criemos novos paradigmas e novos rumos pras nossas mentes confusas.
Nessa briga por espaço e desejos, não sabemos mais quem caça e quem é caçado. Não que isso faça diferença, porque sucumbir nos braços e amassos do predador é o maior deleite da presa. Dar-se de presente ao vencedor, sem que pra isso o outro precise perder. E o prêmio são dois corações descompassados e gargantas - enfim - mudas.

E se ao final, eu sentir um cheiro novo no ar, é sinal que tudo deu certo. E que, provavelmente, vou querer mais confusões. Só não espere que eu deixe uma gaveta no armário só pras tuas coisas. Mistura junto com as minhas, a gente funciona melhor no caos ordenado do nosso ninho.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

ossevAAvesso

Sexo no escuro, no silêncio e a palavra mais quente da noite era 'gata'... Não, não faz meu tipo. E desconfio que isso já passava pela tua mente desde o início. Já sabias que eu não sou de brincadeira de boneca. Gosto mesmo é de brincar com o fogo, principalmente esse fogo que nasce lá embaixo e vem queimando tudo, mãos, boca, olhos, língua.
Também não sou feita de porcelana. Sou bem forte, obrigada. Vem com a fome do mundo que é ela que me alimenta. Mas nem sei porque eu digo essas coisas, isso tudo já ficou bem claro.
Claro! Luzes acesas, senhor, que agora começa o show. Minha platéia é única e meu crítico feroz é teu olhar. Não espero aplausos. Use tuas mãos pra me fazer feliz e me adorar enquanto eu sigo te adorando pelo avesso. Mas quem disse que eu só sei adorar do avesso? Talvez eu estivesse do avesso antes da tua chegada, e agora eu estou do lado certo, no eixo.
As luzes: nunca estiveram tão acesas
Meu corpo: nunca esteve tão ágil
Meu desejo: nunca esteve tão grande
Culpa tua! Meu número exato, meu prato favorito. Sacia-me antes que eu comece a te maldizer.
Ah, também sabes da minha urgência, que cresce a cada dia com o nosso jogo de provocações.
Não demora. Eu vivo em brasas desde a tua chegada.


Estranhamente, a vontade desse texto veio do trecho de uma música que nada tem a ver com tudo que eu escrevi
"Dei pra maldizer o nosso lar,
Pra sujar teu nome, te humilhar,
E me vingar a qualquer preço.
Te adorando pelo avesso.
Só pra mostrar qu'inda sou tua.
Até provar qu'inda sou tua"

domingo, 21 de julho de 2013

Ordens, senhor

Chegue
De olhos abertos, boca crua e passo manso
Pegue
Na minha cintura, nos meus cabelos, no meu pescoço
Agarre
Meus pulsos, meus lábios, minhas coxas
Engula
Meus seios, meu sexo, meu ar
Empurre
Meu corpo na cama, seu quadril contra o meu, seus dentes na minha carne
Provoque
Meus instintos, meus desejos, minha gula
Aperte
Os braços contra meu corpo quente, os lábios pra conter - só por uns curtos segundos - seus gemidos, minha bunda até que me doa
Deixe
que eu grite, que eu estremeça, que eu peça por menos - e que você saiba que eu só quero mais

Você sabe o quanto eu gosto de ordens, e o modo imperativo vindo da sua boca ou dos seus olhos fazem meu coração bater mais forte e a minha fome aumentar.
Sabe muito bem que eu não sei negar nada que me pede com esses olhos doces. E se, por algum motivo eu digo 'não', o castigo que eu recebo da sua mão pesada me faz dizer 'sim'. 
Só preciso que cumpra um único pedido: aninhe meu corpo junto ao calor do seu. O resto, juro-lhe, eu obedecerei.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Outra voz

Olhando assim, iluminada só pela luz da manhã que vai nascendo, finalmente com o peito sereno e o cabelo na testa colado de suor. Tão bonita. Até engana...
Um olhar tão doce, uma conversa tão culta. Política, economia, manifestos, Chico Buarque, Vinicius...
Em segundos se transforma. Felina, rápida, ágil. Mas que mulher fatal essa na minha cama!
Tem sede de vida, sede de sexo, sedenta, transbordando a cada segundo.
Os cabelos, longos na medida certa, davam uma volta perfeita na minha mão áspera e a cada beijo na nuca era um gemido, aumentando a aura de desejo quarto adentro.
A cintura, fina e perfeita para o encaixe. Que cobra essa criatura feminina. Esguia, deslisava por baixo das minhas mãos, do meu desejo, da minha barba.
A barba! Assim que acordar eu sei que vai me xingar ao se olhar no espelho. Vai abrir bem os olhos e vai dizer: meu queixo tá ralado de novo! Não dá pra você fazer essa maldita barba?
E eu sei, e ela sabe, que ela não quer que eu faça. Porque o roçar da barba pelas costas nuas, pelo meio das coxas a enlouquece, e o queixo vermelho e arranhado ela exibe com orgulho.
Ela se mexe, vira de lado, deixando o mais lindo par pronto para os meus olhos. Posso apostar que ainda estão inchados, sensíveis. Preciso tocá-la, mais uma vez...
Sento, com calma, no canto da cama. Não quero que acorde, não agora.
Sigo com os olhos o contorno daquele corpo macio. A cintura, as coxas, a 'bunda redonda de brasileira' (diz ela), aqueles lindos furinhos no final das costas, onde meu polegar cabe perfeitamente - e onde ficou durante muito tempo, sentindo a força e a urgência daqueles quadris na horizontal.
Eu a toco e automaticamente o corpo todo está em um arrepio só. Os seios, novamente prontos, rijos. Se eu os tocar só de leve...
Ela estica as pernas e se vira. Vê-la assim, como ficou tantas vezes com as mãos presas pela minha acima da sua cabeça, imóvel, vulnerável. Em um segundo eu posso montar nela de novo e beijar a boca, o pescoço, o peito, enquanto ela fica batendo as pernas, em desespero, querendo - e não querendo - que eu a solte. Nos pulsos, ainda as marcas avermelhadas do meu grosso modo de segura-la. Pele de seda essa moça. Linda cheia de marcas pelo corpo todo. Marcas da melhor luta que tive em toda minha vida.
Ela sorri, ainda de olhos fechados. Eu já sei o que ela quer. Me quer de novo dentro dela. E eu a quero, desesperadamente.
E antes que eu me mexa, ela pula no meu pescoço e me engole, com língua e saliva, com desespero e calor. Em segundos ela já está no meu colo e as unhas bem fundo na minha carne. Lá vai essa leoa me devorar outra vez.
Facilmente eu diria que a amo. Não digo que caso, digo que amo. Amo esse jeito louco dela. Esse 8 e 80, como se todo o segredo, toda a fome fosse mostrada só pra mim. Como se eu fosse o único homem do mundo que a faz feliz, que a faz revirar os olhos depois se aninhar no meu peito feito uma gata. Uma gata que, enquanto durar, será minha.

(porque um texto em voz masculina escrito por mulher é o mesmo que dizer: eu quero assim, eu gosto assim. E por que não indagar: me vê assim?)



terça-feira, 25 de junho de 2013

Manifesto-me


Sem cartazes, sem tinta no rosto. Sem vergonha
Lutando pelo direito de levar alguém pra minha cama no primeiro encontro e ainda assim ser 'merecedora' de um pedido de namoro.
Pelo direito de te engolir porque eu quero, e não porque minha cabeça é empurrada, feito um boneco condicionado.
Por xingar, bater, morder, gemer no melhor estilo das tuas mais escondidas fantasias e, ainda assim, lábios e olhos doces (porque na tua cabeça santa e puta não podem coexistir no mesmo corpo)
Quero protestar com o corpo nu, coberto só de vontades que eu trouxe pra cama junto contigo.
Com palavras de ordem, e que o prazer seja a reivindicação dos protestantes do quarto. E se não houver palavras, que os meus gemidos te digam tudo.
E mais ainda: que aprendas, de uma vez por todas, que eu sou assim. Vou discutir sobre os problemas do mundo, sobre a fome, as guerras, a Tunísia, a lua, o Papa, e, ao chegar em casa, eu também vou gemer no teu ouvido e te pedir obscenidades, cravar as unhas nos teus braços e implorar que me deixes rouca.
Quero levantar a bandeira que a vida hoje é assim: homens e mulheres acontecendo a cada instante, intensos e transbordantes corpos carregando a vida e suas manifestações de vontades da raça humana, que não se anulam por carregar médico e monstro, súdito e rei, santa e puta.

Não preciso de cartazes para dizer como a vida roda hoje em dia. Preciso só que abram as mentes.
E que a batida de corpos seja feito uma multidão frenética, marchando descompassada rumo à liberdade. Feito nós dois.

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inspirado em: 
"E até lá, hei de libertar algum príncipe preso na torre de um castelo e convencê-lo de que um bom boquete não é sinal de mau caráter. De que uma saia três palmos acima do joelho não é chave de cadeia. De que uma mulher liberal também tem coração transbordante e uma voz apaixonada que pode lhe cantar ao pé do ouvido aquela canção do Clube da Esquina. De que fidelidade é absolutamente compatível com safadeza, sim, senhor. Enfim, de que eu posso estar nua, mas coberta de razão, assim como Leila Diniz quando afirmou: “eu posso dar para todo mundo, mas não dou pra qualquer um”. E se você é feliz por ser moralista, meu benzinho, hoje eu sou feliz por ser aquilo que vocês insistem em chamar de vadia."


(à tudo que aconteceu no país nas últimas semanas: ir a rua é lindo, é emocionante. Mas só tenha certeza que por dentro você acredita, que você está livre das amarras e consciente, senão nada adianta. São lutas que devem ser travadas de dentro pra fora) 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Termômetro e tatuagens


"Vem, eu não mordo"

Mentira. Eu mordo sim. E muito. E sem permissão. Marco-te porque é assim que eu te mostro que estou ali, inteira, atenta e completa dentro dos teus olhos.
Aperto tua pele porque é ali que eu te mostro que sinto tudo dentro de mim, na frequência arrítmica dos nossos desejos pulsantes.
Faço dos nossos gemidos uma peça mundial e atemporal, compreendida em qualquer lugar, por qualquer um, a qualquer tempo, sem vergonha ou pudores.
E que cada marca seja uma lembrança nova, uma descoberta do que não deu pra gravar na memória durante o transe de corpos e suor.

Que, quando a água arder tuas costas durante o banho, lembres do meu abraço querendo te engolir.
Que a discreta marca no teu braço te faça sorrir ao lembrar do meu prazer em te morder com olhos doces.
Que, do nada, tua barriga seja repuxada por dentes invisíveis e meu rosto surja na tua mente.

E que, lá na frente, seja meu nome aquele que quase sai dos lábios teus durante teu tórrido e banal amor de quinta feira a noite com outros lábios calados.


Do mesmo jeito que a cada passo que eu dou, fica impossível não lembrar de ti, dos apertões no meio da selvageria louca no colchão no chão.

Me liga. Mordo-te de novo

sexta-feira, 14 de junho de 2013

...ou te devoro!

Antes de tudo, antes de me colocar na cama e me deixar nua de roupa e de vergonhas, use teus olhos.
Antes da tua boca me sugar por inteira, antes da tua língua queimar minha pele, engula-me com os olhos.
Antes de me apertar as coxas, antes de passar tua mão pela minha barriga, acaricia-me com os olhos.
Assim, no silêncio das promessas, das expectativas assim que subirmos as escadas, coma-me com os olhos.

Por inteiro, de dentro pra fora. Engula meus sonhos, minhas palavras não ditas, meus gestos insinuados .
Devora-me com os olhos, o corpo inteiro, a alma inquieta. 
São nos teus olhos que eu vou encontrar a coragem para fazer tudo que o meu corpo deseja. Neles que eu vou encontrar sua fome, seu desejo rijo e encantador.

É comendo com os olhos que vou deitar embaixo do teu corpo feito uma gata manhosa e ser tua para o que der e vier.
São nos teus olhos que mato minha sede, alimento minhas fantasias e imagino mil e uma aventuras para fazer contigo.
São teus olhos que recarregam minhas baterias e me queimam doce e lentamente, mais que suas mãos ágeis.
Tua boca, impiedosa e cruel, não é páreo quando resolve me devorar com os olhos. É algo que eu não consigo evitar, não tenho coragem nem vontade de desviar meus olhos do teu castanho profundo.


Intenso, arrebatador, cruel e excitante esse par de olhos! É morrer e renascer com a vontade que vem de dentro do teu olhar. É ver ali a fome do mundo e me saciar sem tocar. Sentir-me pronta para te alimentar de amor, sexo e confissões.



Decifra-me! Ou então...só me devora

domingo, 26 de maio de 2013

Bésame mucho

Teu beijo
Sabe aquele com a boca inteira, com lábios, língua, vontade, pressão, desejo, urgência.

Aquele beijo
Casto, doce, demorado, suave, quente.

Só um beijo
Que dure um segundo, uma eternidade, nossa vida, pra sempre, infinito.

Teu beijo, meu bem, não me deixa livre. Apaga da minha mente tudo que existe aqui e agora. Apaga meus medos, meus planos, minha preocupação com a janela que eu deixei aberta. Teu beijo acende em mim todo o desejo que eu não sabia que existia, dispara meu peito, aquece minha boca, deixa-me molhada, à espera, quente, agitada, desperta.
O mais doce toque dos lábios em segundos já me transforma. As mãos, que repousavam serenas em teus braços, precisam te envolver, desejam mais, desejam-te inteiro. Os olhos, que estavam fechados, em paz, agora se abrem tomados pelo susto da química do teu beijo. As pupilas dilatam, querem gravar toda a cena do nosso trailer erótico.
O nosso beijo é uma dança de corpo inteiro, de todos os sentidos trabalhando juntos e alimentando um ao outro. Nosso beijo é encontro de corpos, sensíveis, sexuais, sensuais. É o ardente jogo de sedução, uma busca animal pelo acasalamento. É sexo com sexo, pulsando, desejando invadir e ser invadido, preencher.
São braços apressados que exploram terreno, procuram pontos sensíveis, prontos para o prazer carnal que se instala ao toque dos lábios. Porque, diferente de todos os beijos que eu já tive, todos os corpos que eu encontrei, nosso beijo é o próprio sexo. Em língua e saliva. De corpo inteiro.
O nosso sexo em forma de beijo é assim, basta que nossos lábios se encontrem que eu já estou entregue, mesmo que eu não queira, mesmo que eu prometa que será só um beijo. Nunca é, não consigo. É impossível. Não sabemos acontecer de outra maneira.
Parece magnetismo com uma eletricidade louca. Não sei dizer como acontece, só sei dizer que acontece. E que é contigo, mais ninguém. Se houvessem mais beijos feito os nossos, haveria menos brigas, menos mau humor, menos mimimi. Porque um beijo dessa intensidade desarma todas as defesas, reconcilia, reata corações partidos e mentes teimosas. Quisera todos os beijos fossem assim.
A intensidade com que meu corpo responde ao nosso enlace me espanta e me dá vontade de beijar teu corpo inteiro. In-tei-ro. Mas sei que até lá, tudo já será intenso, forte, quente, úmido.
Muito antes do teu peito nu encostar no meu, eu já terei ficado de pernas bambas, moles, e com as mãos enterradas na tua carne. Já terei suspirado milhares de vezes e o mundo já teria se apagado outras milhares mais.

E assim, beijando-nos em silêncio e vestidos, vamos fazendo sexo em todos os lugares. Na porta de casa, no meio da rua, no encontro, na despedida, para animar, para acalentar, no escuro, no meio da multidão. E a multidão segue sem saber tudo que se passa no nosso corpo desencadeado por um simples toque de lábios. Ah, se nossas roupas falassem...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cozinha-me, cozinho-te

Assim, com cheiro de detergente e migalhas espalhadas. Assim sutil meu corpo acorda e quer tirar você dali o mais rápido possível.
Viu só, é uma vantagem a minha cozinha ser tão estreita, sou obrigada tocar seu corpo de vez em quando, lhe empurrar pra conseguir chegar do outro lado.
É claro que eu não podia deixar a louça acumulando (dizem que a casa não anda), mas também não podia lavar a louça e guardar a mesa. Amarrei em você meu avental, aquele de florzinhas, só porque seu olhar irritado faz de tudo bem mais divertido. Ali, molhado até os cotovelos - completo desastre - com os braços esticados dando-me completa visão dos seus músculos.
Não posso me distrair, tenho compromisso logo mais. Recolho a toalha da mesa e peço licença, preciso chegar até o lixeiro. Você não me ouve - ou faz de conta que não ouve - e não me dá espaço. Viro de costas e empurro seu quadril contra a pia, abrindo passagem pra mim. Não vi, mas tenho certeza que saiu um sorriso, daqueles de canto de boca franzindo um pouco os olhos, o mesmo sorriso que você provoca em mim.
Falamos sobre um assunto qualquer, não sei dizer o que foi, não conseguia pensar em outra coisa a não ser que precisava manter meu foco, não pensar em como é bom o nosso aconchego no colchão. Você estica os braços e a água escorre em direção ao ombro. Eu seco, demoradamente e com mais força do que precisaria. Você me olha nos olhos, agradece e volta a enxaguar os copos. Meu coração dispara e sinto tudo por dentro dando um nó. Não vai dar pra aguentar.
Peço licença, preciso limpar o fogão. Você não se mexe um milímetro. Novamente encosto minha bunda na sua e te empurro. Você não cede, faz força contra o meu corpo. Estamos na mesma sintonia.
Preciso caminhar na ponta dos pés e apertada entre você e a bancada. Ouço uma risada, um sopro de ar. Rio também.
Você termina, seca as mãos na minha coxa, logo minha parte mais sensível. Xingo, acho graça e você me olha como se a minha calça fosse o pano de louça favorito. Reclamo que a pia mais parece o Itajaí-Açu depois de enchente. Peço espaço novamente e dessa vez você cede. Com os braços pra cima, dá um  passo pra trás. Pego o pano e limpo a bagunça que você deixou, com o coração na boca, batendo a mil por hora.
Recebo um beijo na nuca e seu braço me envolve a cintura de um jeito forte e delicado. "Chega moça, já sei que você é prendada. Vamos pra cama"
Não tenho nem espaço pra murmurar seu nome e implorar que me deixe terminar e ir embora. Sua boca me envolve e me suga as palavras que não disse e a minha agenda de compromissos pra hoje a tarde. No seu colo vamos caminhando até o quarto, enquanto o avental de florzinha vai ficando pra trás.

Sua mão ainda cheira a detergente e seus dedos já estão murchos. Eu já estou completamente atrasada. Não faz a menor diferença. Para terminar assim, cozinho todos os dias, toda hora, até você enjoar do meu tempero, de mim.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Mexa as peças

Mova os peões. Jogue as cartas. Tic tac, o jogo já começou



Se eu começar a brincar com fogo, quero sair queimada, ardendo, reduzida a cinzas, a pó, a nada, e mesmo assim ser tudo. Tudo que teus olhos veem, tudo que tuas mãos tocam, tudo que teu corpo sente.

Lamento (por ti, e não por mim) se eu não sei jogar com meias palavras, meias intenções, meias vontades. Sou sincera e transparente, e por ser assim sou feroz, veloz, ávida.
Se eu te toco, te quero. Se eu te olho, te espero. Não sei provocar e cair fora. Se eu te provoco, é minha carta branca, use-a!

Adoro um jogo de gato e rato, mas admito que não tenho muita paciência para esperar. Prefiro um tudo-ou-nada, onde, eu sempre prefiro 'tudo'.
Acho uma covardia e uma maldade esse seu jeito de provocar e cair fora, de tocar e sair, essa coisa instável quando eu já estou com o rosto queimando e o corpo desperto.

Tome decisões, eu já tomei a minha. Mas decida logo, ou a corda do ioiô que construiu pra nós arrebenta de vez.