domingo, 26 de maio de 2013

Bésame mucho

Teu beijo
Sabe aquele com a boca inteira, com lábios, língua, vontade, pressão, desejo, urgência.

Aquele beijo
Casto, doce, demorado, suave, quente.

Só um beijo
Que dure um segundo, uma eternidade, nossa vida, pra sempre, infinito.

Teu beijo, meu bem, não me deixa livre. Apaga da minha mente tudo que existe aqui e agora. Apaga meus medos, meus planos, minha preocupação com a janela que eu deixei aberta. Teu beijo acende em mim todo o desejo que eu não sabia que existia, dispara meu peito, aquece minha boca, deixa-me molhada, à espera, quente, agitada, desperta.
O mais doce toque dos lábios em segundos já me transforma. As mãos, que repousavam serenas em teus braços, precisam te envolver, desejam mais, desejam-te inteiro. Os olhos, que estavam fechados, em paz, agora se abrem tomados pelo susto da química do teu beijo. As pupilas dilatam, querem gravar toda a cena do nosso trailer erótico.
O nosso beijo é uma dança de corpo inteiro, de todos os sentidos trabalhando juntos e alimentando um ao outro. Nosso beijo é encontro de corpos, sensíveis, sexuais, sensuais. É o ardente jogo de sedução, uma busca animal pelo acasalamento. É sexo com sexo, pulsando, desejando invadir e ser invadido, preencher.
São braços apressados que exploram terreno, procuram pontos sensíveis, prontos para o prazer carnal que se instala ao toque dos lábios. Porque, diferente de todos os beijos que eu já tive, todos os corpos que eu encontrei, nosso beijo é o próprio sexo. Em língua e saliva. De corpo inteiro.
O nosso sexo em forma de beijo é assim, basta que nossos lábios se encontrem que eu já estou entregue, mesmo que eu não queira, mesmo que eu prometa que será só um beijo. Nunca é, não consigo. É impossível. Não sabemos acontecer de outra maneira.
Parece magnetismo com uma eletricidade louca. Não sei dizer como acontece, só sei dizer que acontece. E que é contigo, mais ninguém. Se houvessem mais beijos feito os nossos, haveria menos brigas, menos mau humor, menos mimimi. Porque um beijo dessa intensidade desarma todas as defesas, reconcilia, reata corações partidos e mentes teimosas. Quisera todos os beijos fossem assim.
A intensidade com que meu corpo responde ao nosso enlace me espanta e me dá vontade de beijar teu corpo inteiro. In-tei-ro. Mas sei que até lá, tudo já será intenso, forte, quente, úmido.
Muito antes do teu peito nu encostar no meu, eu já terei ficado de pernas bambas, moles, e com as mãos enterradas na tua carne. Já terei suspirado milhares de vezes e o mundo já teria se apagado outras milhares mais.

E assim, beijando-nos em silêncio e vestidos, vamos fazendo sexo em todos os lugares. Na porta de casa, no meio da rua, no encontro, na despedida, para animar, para acalentar, no escuro, no meio da multidão. E a multidão segue sem saber tudo que se passa no nosso corpo desencadeado por um simples toque de lábios. Ah, se nossas roupas falassem...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cozinha-me, cozinho-te

Assim, com cheiro de detergente e migalhas espalhadas. Assim sutil meu corpo acorda e quer tirar você dali o mais rápido possível.
Viu só, é uma vantagem a minha cozinha ser tão estreita, sou obrigada tocar seu corpo de vez em quando, lhe empurrar pra conseguir chegar do outro lado.
É claro que eu não podia deixar a louça acumulando (dizem que a casa não anda), mas também não podia lavar a louça e guardar a mesa. Amarrei em você meu avental, aquele de florzinhas, só porque seu olhar irritado faz de tudo bem mais divertido. Ali, molhado até os cotovelos - completo desastre - com os braços esticados dando-me completa visão dos seus músculos.
Não posso me distrair, tenho compromisso logo mais. Recolho a toalha da mesa e peço licença, preciso chegar até o lixeiro. Você não me ouve - ou faz de conta que não ouve - e não me dá espaço. Viro de costas e empurro seu quadril contra a pia, abrindo passagem pra mim. Não vi, mas tenho certeza que saiu um sorriso, daqueles de canto de boca franzindo um pouco os olhos, o mesmo sorriso que você provoca em mim.
Falamos sobre um assunto qualquer, não sei dizer o que foi, não conseguia pensar em outra coisa a não ser que precisava manter meu foco, não pensar em como é bom o nosso aconchego no colchão. Você estica os braços e a água escorre em direção ao ombro. Eu seco, demoradamente e com mais força do que precisaria. Você me olha nos olhos, agradece e volta a enxaguar os copos. Meu coração dispara e sinto tudo por dentro dando um nó. Não vai dar pra aguentar.
Peço licença, preciso limpar o fogão. Você não se mexe um milímetro. Novamente encosto minha bunda na sua e te empurro. Você não cede, faz força contra o meu corpo. Estamos na mesma sintonia.
Preciso caminhar na ponta dos pés e apertada entre você e a bancada. Ouço uma risada, um sopro de ar. Rio também.
Você termina, seca as mãos na minha coxa, logo minha parte mais sensível. Xingo, acho graça e você me olha como se a minha calça fosse o pano de louça favorito. Reclamo que a pia mais parece o Itajaí-Açu depois de enchente. Peço espaço novamente e dessa vez você cede. Com os braços pra cima, dá um  passo pra trás. Pego o pano e limpo a bagunça que você deixou, com o coração na boca, batendo a mil por hora.
Recebo um beijo na nuca e seu braço me envolve a cintura de um jeito forte e delicado. "Chega moça, já sei que você é prendada. Vamos pra cama"
Não tenho nem espaço pra murmurar seu nome e implorar que me deixe terminar e ir embora. Sua boca me envolve e me suga as palavras que não disse e a minha agenda de compromissos pra hoje a tarde. No seu colo vamos caminhando até o quarto, enquanto o avental de florzinha vai ficando pra trás.

Sua mão ainda cheira a detergente e seus dedos já estão murchos. Eu já estou completamente atrasada. Não faz a menor diferença. Para terminar assim, cozinho todos os dias, toda hora, até você enjoar do meu tempero, de mim.