segunda-feira, 19 de julho de 2010

Doce, quente, forte

"...porque aguçar os sentidos me tira o rumo, o chão e a sensatez"


Eu já sabia o que você estava planejando assim que senti o cheiro de velas. E confirmou todos os meus pensamentos quando beijou meu decote e veio subindo até meu pescoço. O cheiro da colonia pós barba inundou meus sentidos enquanto o whisky ainda presente na sua boca me queimava a pele muito mais do que as velas acesas pelo quarto.

Você cheirava a avelã, roupa limpa e velhas intenções. Comecei abrindo sua camisa devagar, enquanto seus beijos vorazes queriam me engolir, devorar, ver-me sucumbir em meio aos seus braços da cor do pecado e levemente definidos. E eu não consegui impedir você de abrir meus botões e desnudar meu ombro com a boca. Seus lábios me queimando mais uma vez. Eu sabia - e sorria satisfeita por causa disso - que você sentia o cheiro de pimenta rosa que eu sabia que tinha, que você sabia que eu tinha.

Se eu soubesse antes que derramar café na minha calça era só uma desculpa para poder tira-la, eu teria dispensado com muito gosto o café. Agora o cheiro forte do café fresco se misturava com todas as essências espalhadas pelo quarto: as velas, o cheiro de canela que sempre ficava no bolso da sua calça, alecrim... Nem a brisa com cheiro de terra molhada que entrava pela janela entreaberta conseguia esfriar você, sua boca, suas mãos, meus pensamentos...

Enquanto os lençóis bagunçados estavam se tornado inevitáveis, eu não conseguia largar você, não conseguia impedir você de acariciar cada centímetro quadrado da minha pele quente e ávida pelo seu calor, pelo seu toque forte, pelo seu falar doce que me entorpecia assim como todos os aromas daquele quarto. E ao ver minha blusa caída aos meus pés eu vi a mim mesma aconchegada tão perto de você, deliciando-me com a penumbra do quarto e minhas pálpebras oscilando em se manter abertas ou fechar de vez.



Minha voz, seu nome, meu nome, pele, calor, beijo, braços, pernas, sussuros, alívios, carinhos, gemidos, cansaço, mil aromas, lençóis, você, eu, nós

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ciclo


"Eu não acredito que vou deixar ele vencer mais uma vez".

E lá estavam os dois a trocar carícias mais uma vez. Ela mais uma vez começou brincando, provocando, só para ver onde ia parar dessa vez. E parou como todas as outras vezes: um nos braços do outros. Não só braços, mas também boca, mãos, pernas, desejos, carne.

Não que não fosse desejo dela, muito pelo contrário. O único problema era a instabilidade com que ela a tratava -pelo menos pelo ponto de vista dela- ora o homem dos sonhos de qualquer uma, ora o melhor amigo cheio de ocupações, ora o prazer carnal insaciável que exalava por cada um dos poros, que vazava pelos olhos e dominava a voz. Mas quando ele entrava naquele jogo de provocações, ela esquecia completamente porque ele se tornava tudo: o homem, o melhor amigo, o prazer carnal, e carregava com ele todas as consequências de ser tanto em um só.

Aqueles olhos castanhos e sorriso tão convidativo eram simplesmente agradáveis e tentadores demais para que ela deixasse passar. E as mãos... mãos que conheciam todos os caminhos do corpo dela, todas as sensações, os pontos fracos, arrepios, curvas e formas. E os lábios, ao encostarem de leve na orelha dela... "como pode eu me sentir assim? Como ele consegue?"
Mas é tudo bom demais para que ela ignore tantas sensações assim. Não importa quantas vezes ela precise sucumbir para que tudo acabe do mesmo jeito. Com ele ficava tudo certo. Feito um ciclo, sempre assim, sempre bem, sempre juntos.

E ao sentir que as costas se arqueavam e ele suspirava de alívio e prazer, ela tinha toda a certeza que faria tudo igual, mil vezes, só para te-lo ali ao lado dela e ver a pele dele brilhar de suor e o peito subir e descer no arfar da respiração.