quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cozinha-me, cozinho-te

Assim, com cheiro de detergente e migalhas espalhadas. Assim sutil meu corpo acorda e quer tirar você dali o mais rápido possível.
Viu só, é uma vantagem a minha cozinha ser tão estreita, sou obrigada tocar seu corpo de vez em quando, lhe empurrar pra conseguir chegar do outro lado.
É claro que eu não podia deixar a louça acumulando (dizem que a casa não anda), mas também não podia lavar a louça e guardar a mesa. Amarrei em você meu avental, aquele de florzinhas, só porque seu olhar irritado faz de tudo bem mais divertido. Ali, molhado até os cotovelos - completo desastre - com os braços esticados dando-me completa visão dos seus músculos.
Não posso me distrair, tenho compromisso logo mais. Recolho a toalha da mesa e peço licença, preciso chegar até o lixeiro. Você não me ouve - ou faz de conta que não ouve - e não me dá espaço. Viro de costas e empurro seu quadril contra a pia, abrindo passagem pra mim. Não vi, mas tenho certeza que saiu um sorriso, daqueles de canto de boca franzindo um pouco os olhos, o mesmo sorriso que você provoca em mim.
Falamos sobre um assunto qualquer, não sei dizer o que foi, não conseguia pensar em outra coisa a não ser que precisava manter meu foco, não pensar em como é bom o nosso aconchego no colchão. Você estica os braços e a água escorre em direção ao ombro. Eu seco, demoradamente e com mais força do que precisaria. Você me olha nos olhos, agradece e volta a enxaguar os copos. Meu coração dispara e sinto tudo por dentro dando um nó. Não vai dar pra aguentar.
Peço licença, preciso limpar o fogão. Você não se mexe um milímetro. Novamente encosto minha bunda na sua e te empurro. Você não cede, faz força contra o meu corpo. Estamos na mesma sintonia.
Preciso caminhar na ponta dos pés e apertada entre você e a bancada. Ouço uma risada, um sopro de ar. Rio também.
Você termina, seca as mãos na minha coxa, logo minha parte mais sensível. Xingo, acho graça e você me olha como se a minha calça fosse o pano de louça favorito. Reclamo que a pia mais parece o Itajaí-Açu depois de enchente. Peço espaço novamente e dessa vez você cede. Com os braços pra cima, dá um  passo pra trás. Pego o pano e limpo a bagunça que você deixou, com o coração na boca, batendo a mil por hora.
Recebo um beijo na nuca e seu braço me envolve a cintura de um jeito forte e delicado. "Chega moça, já sei que você é prendada. Vamos pra cama"
Não tenho nem espaço pra murmurar seu nome e implorar que me deixe terminar e ir embora. Sua boca me envolve e me suga as palavras que não disse e a minha agenda de compromissos pra hoje a tarde. No seu colo vamos caminhando até o quarto, enquanto o avental de florzinha vai ficando pra trás.

Sua mão ainda cheira a detergente e seus dedos já estão murchos. Eu já estou completamente atrasada. Não faz a menor diferença. Para terminar assim, cozinho todos os dias, toda hora, até você enjoar do meu tempero, de mim.

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