quinta-feira, 27 de junho de 2013

Outra voz

Olhando assim, iluminada só pela luz da manhã que vai nascendo, finalmente com o peito sereno e o cabelo na testa colado de suor. Tão bonita. Até engana...
Um olhar tão doce, uma conversa tão culta. Política, economia, manifestos, Chico Buarque, Vinicius...
Em segundos se transforma. Felina, rápida, ágil. Mas que mulher fatal essa na minha cama!
Tem sede de vida, sede de sexo, sedenta, transbordando a cada segundo.
Os cabelos, longos na medida certa, davam uma volta perfeita na minha mão áspera e a cada beijo na nuca era um gemido, aumentando a aura de desejo quarto adentro.
A cintura, fina e perfeita para o encaixe. Que cobra essa criatura feminina. Esguia, deslisava por baixo das minhas mãos, do meu desejo, da minha barba.
A barba! Assim que acordar eu sei que vai me xingar ao se olhar no espelho. Vai abrir bem os olhos e vai dizer: meu queixo tá ralado de novo! Não dá pra você fazer essa maldita barba?
E eu sei, e ela sabe, que ela não quer que eu faça. Porque o roçar da barba pelas costas nuas, pelo meio das coxas a enlouquece, e o queixo vermelho e arranhado ela exibe com orgulho.
Ela se mexe, vira de lado, deixando o mais lindo par pronto para os meus olhos. Posso apostar que ainda estão inchados, sensíveis. Preciso tocá-la, mais uma vez...
Sento, com calma, no canto da cama. Não quero que acorde, não agora.
Sigo com os olhos o contorno daquele corpo macio. A cintura, as coxas, a 'bunda redonda de brasileira' (diz ela), aqueles lindos furinhos no final das costas, onde meu polegar cabe perfeitamente - e onde ficou durante muito tempo, sentindo a força e a urgência daqueles quadris na horizontal.
Eu a toco e automaticamente o corpo todo está em um arrepio só. Os seios, novamente prontos, rijos. Se eu os tocar só de leve...
Ela estica as pernas e se vira. Vê-la assim, como ficou tantas vezes com as mãos presas pela minha acima da sua cabeça, imóvel, vulnerável. Em um segundo eu posso montar nela de novo e beijar a boca, o pescoço, o peito, enquanto ela fica batendo as pernas, em desespero, querendo - e não querendo - que eu a solte. Nos pulsos, ainda as marcas avermelhadas do meu grosso modo de segura-la. Pele de seda essa moça. Linda cheia de marcas pelo corpo todo. Marcas da melhor luta que tive em toda minha vida.
Ela sorri, ainda de olhos fechados. Eu já sei o que ela quer. Me quer de novo dentro dela. E eu a quero, desesperadamente.
E antes que eu me mexa, ela pula no meu pescoço e me engole, com língua e saliva, com desespero e calor. Em segundos ela já está no meu colo e as unhas bem fundo na minha carne. Lá vai essa leoa me devorar outra vez.
Facilmente eu diria que a amo. Não digo que caso, digo que amo. Amo esse jeito louco dela. Esse 8 e 80, como se todo o segredo, toda a fome fosse mostrada só pra mim. Como se eu fosse o único homem do mundo que a faz feliz, que a faz revirar os olhos depois se aninhar no meu peito feito uma gata. Uma gata que, enquanto durar, será minha.

(porque um texto em voz masculina escrito por mulher é o mesmo que dizer: eu quero assim, eu gosto assim. E por que não indagar: me vê assim?)



terça-feira, 25 de junho de 2013

Manifesto-me


Sem cartazes, sem tinta no rosto. Sem vergonha
Lutando pelo direito de levar alguém pra minha cama no primeiro encontro e ainda assim ser 'merecedora' de um pedido de namoro.
Pelo direito de te engolir porque eu quero, e não porque minha cabeça é empurrada, feito um boneco condicionado.
Por xingar, bater, morder, gemer no melhor estilo das tuas mais escondidas fantasias e, ainda assim, lábios e olhos doces (porque na tua cabeça santa e puta não podem coexistir no mesmo corpo)
Quero protestar com o corpo nu, coberto só de vontades que eu trouxe pra cama junto contigo.
Com palavras de ordem, e que o prazer seja a reivindicação dos protestantes do quarto. E se não houver palavras, que os meus gemidos te digam tudo.
E mais ainda: que aprendas, de uma vez por todas, que eu sou assim. Vou discutir sobre os problemas do mundo, sobre a fome, as guerras, a Tunísia, a lua, o Papa, e, ao chegar em casa, eu também vou gemer no teu ouvido e te pedir obscenidades, cravar as unhas nos teus braços e implorar que me deixes rouca.
Quero levantar a bandeira que a vida hoje é assim: homens e mulheres acontecendo a cada instante, intensos e transbordantes corpos carregando a vida e suas manifestações de vontades da raça humana, que não se anulam por carregar médico e monstro, súdito e rei, santa e puta.

Não preciso de cartazes para dizer como a vida roda hoje em dia. Preciso só que abram as mentes.
E que a batida de corpos seja feito uma multidão frenética, marchando descompassada rumo à liberdade. Feito nós dois.

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inspirado em: 
"E até lá, hei de libertar algum príncipe preso na torre de um castelo e convencê-lo de que um bom boquete não é sinal de mau caráter. De que uma saia três palmos acima do joelho não é chave de cadeia. De que uma mulher liberal também tem coração transbordante e uma voz apaixonada que pode lhe cantar ao pé do ouvido aquela canção do Clube da Esquina. De que fidelidade é absolutamente compatível com safadeza, sim, senhor. Enfim, de que eu posso estar nua, mas coberta de razão, assim como Leila Diniz quando afirmou: “eu posso dar para todo mundo, mas não dou pra qualquer um”. E se você é feliz por ser moralista, meu benzinho, hoje eu sou feliz por ser aquilo que vocês insistem em chamar de vadia."


(à tudo que aconteceu no país nas últimas semanas: ir a rua é lindo, é emocionante. Mas só tenha certeza que por dentro você acredita, que você está livre das amarras e consciente, senão nada adianta. São lutas que devem ser travadas de dentro pra fora) 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Termômetro e tatuagens


"Vem, eu não mordo"

Mentira. Eu mordo sim. E muito. E sem permissão. Marco-te porque é assim que eu te mostro que estou ali, inteira, atenta e completa dentro dos teus olhos.
Aperto tua pele porque é ali que eu te mostro que sinto tudo dentro de mim, na frequência arrítmica dos nossos desejos pulsantes.
Faço dos nossos gemidos uma peça mundial e atemporal, compreendida em qualquer lugar, por qualquer um, a qualquer tempo, sem vergonha ou pudores.
E que cada marca seja uma lembrança nova, uma descoberta do que não deu pra gravar na memória durante o transe de corpos e suor.

Que, quando a água arder tuas costas durante o banho, lembres do meu abraço querendo te engolir.
Que a discreta marca no teu braço te faça sorrir ao lembrar do meu prazer em te morder com olhos doces.
Que, do nada, tua barriga seja repuxada por dentes invisíveis e meu rosto surja na tua mente.

E que, lá na frente, seja meu nome aquele que quase sai dos lábios teus durante teu tórrido e banal amor de quinta feira a noite com outros lábios calados.


Do mesmo jeito que a cada passo que eu dou, fica impossível não lembrar de ti, dos apertões no meio da selvageria louca no colchão no chão.

Me liga. Mordo-te de novo

sexta-feira, 14 de junho de 2013

...ou te devoro!

Antes de tudo, antes de me colocar na cama e me deixar nua de roupa e de vergonhas, use teus olhos.
Antes da tua boca me sugar por inteira, antes da tua língua queimar minha pele, engula-me com os olhos.
Antes de me apertar as coxas, antes de passar tua mão pela minha barriga, acaricia-me com os olhos.
Assim, no silêncio das promessas, das expectativas assim que subirmos as escadas, coma-me com os olhos.

Por inteiro, de dentro pra fora. Engula meus sonhos, minhas palavras não ditas, meus gestos insinuados .
Devora-me com os olhos, o corpo inteiro, a alma inquieta. 
São nos teus olhos que eu vou encontrar a coragem para fazer tudo que o meu corpo deseja. Neles que eu vou encontrar sua fome, seu desejo rijo e encantador.

É comendo com os olhos que vou deitar embaixo do teu corpo feito uma gata manhosa e ser tua para o que der e vier.
São nos teus olhos que mato minha sede, alimento minhas fantasias e imagino mil e uma aventuras para fazer contigo.
São teus olhos que recarregam minhas baterias e me queimam doce e lentamente, mais que suas mãos ágeis.
Tua boca, impiedosa e cruel, não é páreo quando resolve me devorar com os olhos. É algo que eu não consigo evitar, não tenho coragem nem vontade de desviar meus olhos do teu castanho profundo.


Intenso, arrebatador, cruel e excitante esse par de olhos! É morrer e renascer com a vontade que vem de dentro do teu olhar. É ver ali a fome do mundo e me saciar sem tocar. Sentir-me pronta para te alimentar de amor, sexo e confissões.



Decifra-me! Ou então...só me devora